sábado, 2 de janeiro de 2016

Sermões do Padre Antônio Viera

Faltando 8 dias para o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, conclui o estudo no que se refere as leituras obrigatórias 2016. Gostei de todas as obras, especialmente O Amor de Pedro por João (Tabajara Ruas) e Terras do Sem Fim (Jorge Amado), mas sem dúvidas a que mais me surpreendeu foi os Sermões do Padre Antônio Vieira, pois a primeira impressão que tive ao ler o título, em completa ignorância, é que seria um monte de fanfarronice cristã.
Mal podia imaginar o quão errada estava. A começar por quem foi o Padre Antônio Vieira, um homem a frente do seu tempo tanto que se tornou o escritor mais importante do Barroco brasileiro. Nasceu em Lisboa e morou um tempo no Brasil, onde defendeu a liberdade dos índios e dos judeus, motivo pelo qual entrou em conflito com os barões do café e posteriormente peso pela Inquisição. Foi excêntrico até em sua morte, pois morreu com 89 anos, idade extremamente avançada para os padrões da época.
O objetivo desse texto é sintetizar os pontos de cada um dos três sermões que li.

I- Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (1640)
Neste sermão Padre Antônio questiona Deus e até mesmo o ameça, citando exemplos bíblicos para fundamentar sua tese. Ele sustentar que não só precisamos do perdão de Deus como Deus precisa nos perdoar, pois talvez possa precisar de nós em lutas na terra. Notem a forma como se posiciona no seguinte fragmento:

"Abrasai, destruí, consumi-nos a todos, mas pode ser que algum dia queiras espanhóis e portugueses e que não acheis"

Para um padre que viveu no século XVIII é no mínimo curioso a forma como conduzia seus sermões.

II- Sermão da Sexagésima (1655)
Aqui ele questiona porque antigamente convertiam-se milhões e hoje ninguém se o Deus é o mesmo? A resposta é simples: a forma como se semeia a semente da palavra de Deus. Inclusive, essa metáfora é usada durante todo o sermão.
Padre Antônio sustenta que a houve um apostilamento da Palavra, onde os pregadores falam 40 assuntos em uma hora. O que está errado, já que os ouvintes se cansam e nada é aproveitado. É melhor falar sobre um assunto em 40 dias, do que 40 assuntos em 1 horas.
Segue a baixo um trecho que mostra a genialidade e o domínio que o autor possuía das palavras. Neste, ele afirma que as pessoas assimilam muito mais o que vêem ao que escutam. Analogicamente aos dias de hoje "longe dos olhos, longe do coração" ou "o que os olhos não veem, o coração não sente".

"A razão disto é porque as palavras ouvem-se, as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos. No Céu ninguém há que não ame a Deus, nem possa deixar de o amar. Na terra há tão poucos que o amem, todos o ofendem. Deus não é o mesmo, e tão digno de ser amado no Céu e na Terra? Pois como no Céu obriga e necessita a todos a o amarem, e na terra não? A razão é porque Deus no Céu é Deus visto; Deus na terra é Deus ouvido".

III - Sermão de Santo Antônio aos Peixes (1654)
Sem dúvidas o mais surpreendente, visto que jamais outro Padre fez algo semelhante, imaginem, um sermão aos peixes?
Ao longo do sermão são feitos louvores e repressões aos peixes. Entre tantas coisas que poderiam ser faladas aqui, escolhi duas: o fato dos peixes serem os únicos animais da Terra que não podem ser domesticados, se referindo a qualidade, e a ousadia dos peixes voadores que tem todo o mar e mesmo assim querem o ar, sobre os defeitos.

"Falando dos peixes, Aristóteles diz que só eles, entre todos os animais, se não domam nem domesticam. Dos animais terrestres o cão é tão doméstico, o cavalo tão sujeito, o boi tão serviçal, o bugio tão amigo ou tão lisonjeiro, e até os leões e os tigres com arte e benefícios se amansam. Dos animais do ar, afora aquelas aves que se criam e vivem connosco, o papagaio nos fala, o rouxinol nos canta, o açor nos ajuda e nos recreia; e até as grandes aves de rapina, encolhendo as unhas, reconhecem a mão de quem recebem o sustento. Os peixes, pelo contrário, lá se vivem nos seus mares e rios, lá se mergulham nos seus pegos, lá se escondem nas suas grutas, e não há nenhum tão grande que se fie do homem, nem tão pequeno que não fuja dele".


"Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves?"



Sobre o segundo fragmento a compreensão é muito simples, visto que quem tudo quer, com nada fica.

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